Viajavam quatro mulheres em um carro,
quando o sinal vermelho provocou a parada obrigatória exatamente ao lado de um
motoqueiro. Disse a motorista, ao vê-lo com a cabeça voltada para a direção de
seu carro: “Todos iguais! Não podem ver um carro cheio de mulheres bonitas sem
quebrar o pescoço olhando para dentro do veículo!”. “Não, querida – replicou uma
das caronas – ele não está olhando pra nós. Observe sua moto barata, típica de
assaltantes de farol. Ele está tentando descobrir o que há de valor dentro de
seu carro, toma cuidado!”. Percebendo a divergência das amigas, deu sua opinião
a terceira ocupante do veículo: “Nem para nós, nem para o carro: ele está simplesmente
olhando para a loja de motos do outro lado da rua!”. A quarta ocupante do
veículo absteve-se de comentários, mais ocupada em analisar a atitude das moças
do que com a real intenção do rapaz: de minhas observações nasceu esta crônica.
Uma certeza restou inequívoca para mim:
temos o julgamento precipitado por hábito. Julgamos conforme nossos valores –
ou segundo a falta deles! Emitimos juízo a partir daquilo que para nós mais
importa, seja nossa vaidade, sejam nossos bens. Olhamos para o outro através da
lente que revela nosso próprio coração. Vemos nele nosso reflexo invertido,
como a imagem no espelho.
Felizmente, há entre nós os que são sensatos:
aqueles que olham para a cena inteira antes de emitir julgamento. Não
complicam, não minimizam nem aumentam. Não almejam julgar intenções, descrevem
exatamente o que vêem – nem mais, nem menos. Ingênuos? Não, não são. Conseguem
perceber perigos reais. Mas não criam perigos desnecessários e inconvenientes
onde eles não precisam existir! Nem se deixam mover pela vaidade, pela
necessidade de atenção. Substituem a palavra julgamento por discernimento, e
assim agem com sabedoria em todas as situações.
O problema dos julgamentos precipitados é
que eles invadem relacionamentos e provocam mal-entendidos. Coisas banais
transformam-se em tempestades que abalam famílias inteiras – tudo porque uns
julgam os outros, criticam, antecipam intenções que talvez nem sejam reais.
Amizades de infância são destruídas num instante e uma pilha de boas lembranças
é jogada no lixo sem piedade por algo que um pensou que o outro quisesse dizer
ou intencionasse fazer... Desatam-se laços, cavam-se abismos e a explicação
para tão insana atitude reside exclusivamente no orgulho humano, que faz um
pensar que é melhor – mais belo, mais
rico, mais inteligente, mais isso, mais aquilo... – do que o outro. Lastimável.
Em discurso recente, o líder religioso
Dieter Uchtdorf expressou-se nestes termos: “Esse assunto de julgar os outros
poderia de fato ser ensinado em um sermão de duas palavras. No que se relaciona
a ódio, maledicência, desprezo, infâmia, rancor ou o desejo de magoar, apliquem
o seguinte: PAREM JÁ! É muito simples.
Simplesmente temos de parar de julgar os outros e substituir os pensamentos e
sentimentos dessa natureza por um coração cheio de amor a Deus e a Seus filhos.”
De fato, é disso que precisamos: parar
imediatamente de julgar. Não perderemos nosso discernimento ou nossa habilidade
para prever perigos por causa disso. Mas
estaremos aptos a ver o perigo somente onde ele está, e não em tudo e todos ao
nosso redor. Descomplicar é o segredo.
O sinal abriu e motoqueiro e sua moto barata avançaram. Quanto
a nós, no carro importado, a sensação foi de permanecermos estagnadas na vida,
limitadas por nossos próprios juízos precipitados, incapazes de evolução. Dentro
da consciência de cada uma, piscava um insistente alerta vermelho ordenando:
pare já!
Suzy Rhoden