sábado, 14 de julho de 2012

Nômade por Opção


“Mudança?! De novo!!!”

“Sim, estou  mudando. De novo. De casa, de cidade, de profissão.”

E o diálogo se repete a cada esquina, em cada conversa ao telefone, nas páginas de relacionamento. Segue às palavras transcritas um suspiro de sinceros pêsames e uma solidariedade da qual não posso deixar de achar graça, enquanto acompanho no olhar de meus interlocutores a tradução de seus pensamentos: “Coitada, quanto trabalho pela frente! Que trágico destino! Ter de partir assim, como se não tivesse raízes...”

Amigos, agradeço sinceramente a preocupação. Mas em mudar-se não há trabalho algum! Trabalhoso mesmo é enfrentar todos os dias a mesma rotina, a mesma casa, a mesma vida. Isso é o que de fato me dá cansaço, por vezes me leva à exaustão. Encaixotar coisas é um prazer, afinal são as minhas coisas! E há quanto tempo eu não reservava um momento especial para elas... Para ver as fotos da faculdade, da época em que usar sapato social e meia soquete era moda... e o cabelo então, quanta diferença! Felizmente, ninguém teve a idéia de trazer de volta aquela franja arrepiada à la Chitãozinho e Xororó... Os velhos CDs, em total desuso atualmente graças a tecnologia, mas que embalaram o nascer de uma paixão. Os livros, lidos e guardados entre os favoritos; lidos e esquecidos; e os nunca lidos, que agora finalmente terão  sua oportunidade! Roupas e acessórios que vão enchendo caixas de doação e deixando espaço livre para os novos itens que serão adquiridos... Louças, faqueiros, lençóis, jogos de toalhas... eu nem sabia que os tinha! Todos presentes de casamento, intactos, que afortunadamente combinam de maneira impressionante com a decoração da  nova casa... E segue a lista das novidades, entre nossos pertences antigos, que só têm sua vez quando se abrem os baús. Que há de trabalhoso, de chato, de desagradável nisso?!

Outro aspecto amplamente comentado é a tristeza da partida. Por que tem que ser triste? É um padrão? Devo revestir meu rosto de lágrimas? Sinto muito, eu não consigo, não sou assim. E não é por amar de menos, mas justamente por amar demais o lugar onde vivi, as pessoas que ali conheci... Quando amo, sou intensa, sou plena. Amo completamente e a cada instante. Não guardo reservas para o dia seguinte, nem tenho o intuito de utilizar sobras de hoje para aliviar o remorso do amor que  não demonstrei. Cada dia traz a sua medida, e nela me regozijo. Portanto, pra que chorar na despedida?! O semblante abatido em que será útil, se ele não compensa os dias em que poderia ter servido pessoas queridas, mas por egoísmo não me doei? O que vale mesmo, e o que de fato fica, são os capítulos já preenchidos: se agora vem a vírgula ou o ponto final, pouca diferença faz, não muda a história que já se escreveu.

Nem desapego, nem frieza. Sou assim bem-resolvida, ponto. Por dentro, um turbilhão de sentimentos, todos bons, positivos, otimistas. Por fora... o reflexo radiante de tudo que vai por dentro! Sou transparente e não nego a felicidade que sinto. Portanto, eis a razão de meu sorriso, a natureza de minha alegria – mesmo às vésperas de uma partida!

Quanto ao meu baú de recordações, é um privilégio abri-lo de tempos em tempos. Da mesma forma que, quando é chegada a hora de lacrá-lo para a partida, eu o faço sem hesitar. Carrego meu baú comigo, aonde for levarei  minha história... mas não estou presa dentro dele, eu não caberia ali! Deixem que as fotos - e meus textos, meus registros -  contem meu passado: daremos boas gargalhadas com eles, na ocasião da próxima mudança.

Quanto a mim, ao invés de raízes, tenho asas! Quero mais é partir, seguir rumo ao desconhecido, viver... Pois o que gosto mesmo é  de explorar páginas inteiras em branco: só para nelas ter o prazer de escrever inéditas, belas histórias!

Suzy Rhoden




12 comentários:

  1. Oi Suzy :)
    E que lindo que é 'escrever inéditas e belas histórias'.
    Voar como águia é bom demais...
    E ter medo de mudanças é inútil,pois uma hora ou outra elas ocorrem na nossa vida.
    O que é novo hoje não vai ser mais daqui a um mês.
    Ter medo de mudar é o mesmo que ter medo de viver.
    Linda crônica (como sempre!).
    Bjs!

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  2. Suzy, entendo muito bem suas palavras, vivo há 27 anos num ritmo nômade e aprendi a gostar de terminar um ciclo e iniciar outro, embora deixar pessoas que aprendemos a amar nem sempre seja uma tarefa fácil. O bom de tudo isso é, o que você tão bem definiu, fugir da cruel rotina, renovar a alma, respirar novos ares, conhecer outras pessoas.
    Sua crônica revela um pouco mais o seu jeito intenso de viver a vida, isso é lindo e não tem preço!
    Tenha um maravilhoso fim de semana minha querida amiga.

    Beijos

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  3. lINDO,SUZY! e QUE BOM QUANDO CONSEGUIMOS FACHAR PÁGINAS, MUDAR SEM TRISTEZAS...VOANDO POR INTEIRO,DE ASAS BEM ABERTAS AO NOVO, SEM FICAR ESPIANDO O QUE DEIXAMOS... BEIJOS PRAIANOS,CHICA

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  4. Mas mudar é maravilhoso, Suzy! Eu mudo sempre: mudo de atitude, mudo de atividade, mudo de opinião – graças a Deus que ainda tenho a capacidade de me convencer que estou equivocada. Adoro mudar as coisas de lugar, os móveis, as tralhas. Mudo de leitura, mudo minhas postagens. Só não mudo mais de casa. Assim está bom.
    Mas mudanças são necessárias, revigoram. Tudo que é novo sempre será bem-vindo. Portanto, amiga, mude sempre se for pra melhorar! E deixe que falem / que pensem / que digam...

    Mudar não quer dizer que não gostamos ou paramos de gostar. São fases. É apenas uma necessidade, ou um gosto. E daí? Mas amiga... Sempre tem gente que se não disser, se não se meter... Morre!
    Até hoje minha família tira sarro por eu ter sonhado, durante anos, em morar em Gramado – uma cidade de sonho. Não fui, mas vivi longos e lindos sonhos na minha imaginação... Mal não me causou.

    Grande beijo,
    Tais

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  5. Oi Suzy,

    que belo texto!
    Acho que maturidade é isso! Usar as mudanças para mudar e não para chorar pela página que precisa ser virada. Enxergar a página em branco como uma oportunidade de novas histórias, afinal, quantos não dariam um reino para uma página novinha em folha em suas vidas?

    Que venham muitas novas histórias e novos caminhos em sua vida!

    Beijos

    Leila

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  6. Oi, Suzy,
    Fiquei lendo e namorando esse seu texto tão lindo e lúcido sobre mudanças. Amei!
    Sou mais árvore. Finco raízes. Agora, já quase sessentona é que tenho me perguntado sobre isso: mudar!
    Não falo de mudanças internas nem corporais, embora elas até aconteçam quando a mudança é de espaço geográfico, essa sim, minha maior dificuldade.
    Mas, quem sabe? O que me vem assaltando a vontade não me permita, como a vc, criar asas?
    Bjsssssssssssssss, quérida!

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  7. Querida!!!

    Eu me lembro quando você começou a me contar o início desta história.

    Olha, que coisa! Como o tempo passar rápido.

    Peço a Deus que te cubra com o seu manto protetor, para que os teus inimigos não tenham como te tocar.

    Peço que ele te abra os olhos para ver por onde você deve pisar nesse caminho.

    Que Deus te mostre o que fazer nas horas difíceis, que certamente existirão.

    Que ele te levante diante das decepções e faça você acreditar que vale a pena acreditar e continuar crendo que Ele mesmo tem um propósito pra sua vida, pra essa mudança, pra esse novo ambiente de trabalho.

    Que ele coloque no seu caminho as pessoas certas e que ele te mostre como ajudá-las.

    Que ele te ensine a ser cada vez mais feliz por poder ajudar as pessoas em horas tão complicadas.

    Que o seu exemplo brilhe forte onde abundar as trevas do desânimo, do desespero, do despreparo, do desamparo. E isso traga esperança e fé onde você brilhar.

    Enfim, que Deus te faça muito feliz nessa nova empreitada para a alegria daqueles que têm o prazer de conviver com você.

    Um beijo e mantenha contato!

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  8. Bom dia,Suzy!!

    Belíssima crônica,querida!!!Pelo jeito não é só sobre a televisão que concordamos!!!Temos muitos pontos em comum!Geralmente quem não gosta de mudar-se, e faz disso um drama é alguém com profundo apego.E quem tem apego é preso,as coisas, as pessoas,etc...
    Melhor mesmo é ser livre!!!
    Beijos pra ti!!!
    Ótima semana!

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  9. Suzy, que belo texto! Mudar de casa, de rua, de cidade, enfim, de lugar é sempre o novo que se aproxima. E como não aguardar o novo com alegria, expectativas e otimismo? Eu também sou assim, melhor, fui; meio nômade, um tantinho aventureira rsrs. Mudanças nunca me assustaram, sempre encarei como uma nova descoberta. Digo fui por que já vivi tudo isso até a exaustão! rsrs. Ainda aprecio as mudanças que sejam pequenas, pois minhas ‘raízes’ hoje estão plenamente desenvolvidas e criaram outras ‘raizinhas’ que as quero perto de mim... se é que vc me entende rsrs.

    Amiga! Desejo-te borboletas coloridas te visitando todos os dias no teu novo endereço! Que seus sorrisos sejam uma constância. E que vc seja muito feliz!

    Bjo grande!

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  10. Suzy, desde que me casei já mudamos 9 vezes. E como você, acho bom porque renova, conhecemos novos lugares, novas amizades, novos povos, saímos da rotina e acho que com isso a família fica mais unida. Já li vários textos e estou adorando. Escreve super bem, gostoso, fácil de entender.
    Beijos

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  11. Quero muito ter essa vida. Desapegada das coisas que me dão tanto trabalho e me privam de levar uma vida mais leve e solta. Ainda chego lá. Trabalho e me trabalho para isto.

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