segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Férias Escolares


Final de janeiro e eu ainda não tinha falado sobre elas: as férias escolares tão esperadas, sonhadas, desejadas pelos brasileirinhos!  Lembro bem de meus tempos de criança, contava os dias para entrar em férias... Mas acho que meus pais contavam os dias para que elas acabassem: eu não era o tipo de criança que se satisfazia com desenhos animados na TV, requeria um pouco mais de emoção, adrenalina nas atividades, para angústia de meus progenitores. Minhas aventuras demandavam energia extra que eles nem sempre tinham a oferecer...

Sei exatamente como eles se sentiam há uns vinte e tantos anos atrás. Tenho filhos em idade escolar. Mas será coisa de primogênito essa teimosia em desbravar o mundo?! Meu garotinho de 6 anos me colocou essa dúvida no último final de semana...

Tivemos a ideia de levá-los a um sítio. Lugar perfeito, com local adequado para pescaria, piscina, área para camping, e até uma cascata. A pesca foi uma beleza, atividade ideal, recomendo para todos os pais: você ensina o filho a sentar e esperar a boa vontade do peixe. A cada 3 horas, dá uma conferida pra ver se o pobre fisgou. E tudo no mais absoluto silêncio, pra não espantar as vítimas. 

Mas como meu filho é realmente meu filho, morreria de tédio se tivesse que passar 5 minutos ali, naquela interminável espera. Não teve outro jeito, tivemos que encarar a cascata...

Subimos pela montanha, e retornamos pelo riacho. Não sei qual das trilhas foi mais cansativa. Pra mim, claro. Pois meu primogênito agia como se fosse o guia de nosso grupo, a frente de todos, explorando todas as possibilidades. Sua alegria era completa quando encontrava um desafio! Acessorado por seu irmãozinho e outros amigos de mesma faixa etária, deliberava sobre a ação mais acertada: contornar um tronco que obstruía nosso caminho ou andar sobre ele, exercitando o equilíbrio? Nós, adultos, não éramos chamados a dar palpites. Talvez  porque, ofegantes, estivéssemos alguns quilômetros atrás da criançada...

Ao final da trilha, como era de se esperar, algumas crianças reclamaram do cansaço. Citaram os obstáculos como pontos negativos. Mas foram de imediato contestadas por meu menino, que curtiu especialmente os desafios da caminhada. Disse que o mais divertido era ter que decidir o que fazer diante de um problema... Nem os espinheiros que encontramos o detiveram, para tudo seus olhos perspicazes encontraram uma solução.

Aprendi tanto com meu pequenino em um único dia! Ele cresceu e eu nem havia percebido... não tanto em estatura, mas em conhecimento e sabedoria. O menino tímido da sala de aula deu lugar ao aventureiro resoluto, decidido a enfrentar e vencer qualquer barreira em seu caminho. Se pudéssemos olhar como ele para nossos problemas diários, não perderíamos tempo chorando e lamentando: avaliaríamos a situação e então agiríamos, sendo positivos em todas as coisas.

Como recompensa, encerramos o dia nas águas cristalinas da piscina. Quem se lembrou das quedas durante a trilha? Ou dos espinhos que por um instante causaram dor? E ainda do esforço para escalar pedras lisas e íngremes? Ou dos obstáculos superados dentro d’agua? Não, as dificuldades não foram lembradas. Mas serviram, certamente, para que desfrutássemos da calmaria da piscina com ainda mais alegria e gratidão.

Engana-se quem pensa que férias escolares são pausas no aprendizado. Eu particularmente penso que é para essa época, quando estamos mais próximos de nossos filhos, que a Escola da Vida reserva suas melhores lições.

Suzy Rhoden

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Erros e Acertos...




Retornei de minhas férias na praia, onde estive desconectada, para encontrar a surpreendente retratação de Luis Fernando Verissimo circulando pelas redes sociais. Surpreendente no sentido positivo, claro. Pois, apesar da evidente mancada em recente artigo, poucos acreditavam que o escritor voltaria ao assunto, especialmente para reconhecer que errou. Foi exatamente isso o que  fez, publicando suas palavras sob o título ERREI.

Integro o grupo dos que acreditavam numa retratação. Não se poderia esperar outra reação de alguém de seu nível, figura de importância indiscutível para a literatura nacional. Suas palavras foram contestadas com fatos, dados históricos, datas oficiais. E não existem argumentos contra fatos. O melhor, o mais sensato, é recorrer ao antídoto da humildade: aquela que coloca nas mesmas condições os grandes e os pequenos; os famosos e os anônimos. Luis Fernando Verissimo errou como qualquer um de nós erra, todos os dias. E se retratou como cada um de nós deve fazer nas mesmas circunstâncias. Estamos quites, em condição de igualdade, sem cobradores e devedores entre nós.

Aprendi algumas coisas com essa experiência: não silenciar diante de um equívoco quando ele induz outros ao erro. Usei o instrumento que possuo – meu blog – para fazer com que minha voz fosse ouvida. Com alegria, vi muitos somarem sua voz a minha, e rapidamente proferíamos em uníssono a verdade a respeito de nossa prática religiosa. Estivemos unidos na mesma causa, o que fez com ela chegasse com poder até Luis Fernando Verissimo. Ele menciona os vários emails que recebeu corrigindo seu erro. Nossas vozes se multiplicaram e isso certamente foi decisivo para que ele reavaliasse sua postura e reconhecesse sua falha.

Também aprendi que a diplomacia se sobrepõe à indignação, mesmo quando esta é justificada. Aos gritos, poderemos ser ouvidos, mas não compreendidos. Ofensas são deselegantes em qualquer situação, não consertam erros nem convidam à retratação. O respeito, por outro lado, e a sutileza no falar – ainda que com firmeza – operam milagres!

E, finalmente, comprovei a validade do clichê ‘errar é humano’. Verissimo refere-se ao seu erro de mais de cem anos como algo imperdoável, mas pede perdão mesmo assim. Fez bem em retratar-se ao invés de tentar vãs justificativas. Mas não precisa se preocupar com o perdão, não somos nós seus algozes a exigir a confissão de pecados, com direitos de proferir sobre sua cabeça a sentença de condenação ou absolvição. Erro corrigido é erro inexistente, não contabiliza mais, não influencia resultados.

Através da citada atitude, Luis Fernando Verissimo fez sabiamente as pazes com seus leitores SUDs – abreviação para membros Santos dos Últimos Dias, também chamados de Mórmons. Alguns ainda olham para suas obras com olhos desconfiados... será ele digno de credibilidade? Quanto a mim, lerei suas obras com ainda mais interesse, confiante em sua promessa de que “[o erro] Não se repetirá. Gravarei com brasa na testa para nunca mais esquecer: informe-se antes de dar palpite.”

E, quem sabe, Luis Fernando Verissimo não queira realmente se informar a respeito da religião - A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias - que, indiretamente, tanto lhe causou transtornos e descubra o que move seus membros de maneira tão convicta, sem contudo haver aí intolerância ou fanatismo. Encontrará em cada membro fiel um testemunho vivo da fé que professam ter e, ao invés de julgamento, um convite uníssono para conhecer a razão de nossa alegria. 

Suzy Rhoden

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Intolerância Religiosa?






Minha crônica nesta semana ia por outros rumos, bem diferentes deste que me sinto obrigada a tomar devido ao meu comprometimento com a verdade. Refiro-me ao infeliz artigo de Luis Fernando Verissimo, publicado em Zero Hora, entre outros jornais de grande circulação no país, nesta última quinta-feira. Seria mais um artigo, dentre tantos, com o qual eu poderia concordar ou discordar, se não fosse a leviandade nas palavras do escritor, e diante delas não posso permanecer calada e inerte. É preciso que os equívocos sejam desfeitos e explicarei porque me sinto em condições de fazê-lo.

Não sou escritora conhecida, nem tenho a presunção de comparar minha cultura com a de Luis Fernando Verissimo, importante escritor nacional. Não venho aqui fazer duelo de conhecimento. Porém saio do anonimato  para esclarecer as inverdades proclamadas em tom de deboche contra a igreja da qual sou membro, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, sobre a qual não tenho apenas vagas informações, mas conhecimento amplo adquirido como membro ativo e fiel dessa religião ao longo de vários anos. Posso, portanto, falar com mais credibilidade sobre ela do que um escritor que sequer pesquisou em fontes oficiais antes de lançar sua opinião sobre o público. Testifico que algumas afirmações são levianas e que não se aplicam, conforme foram elaboradas por Verissimo, à A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

A "religião Mórmon" - apelido dado à igreja por não membros - tem estado em evidência devido ao crescimento de Mitt Romney na corrida eleitoral pela presidência dos Estados Unidos. Que alguns gostam, outros desgostam da opção religiosa do candidato, é fato: é normal, é saudável, posto que  temos nosso livre arbítrio e nossa liberdade de expressão. Considero sagrada essa liberdade, e  não questiono por um instante o direito que Verissimo ou qualquer autor tem de proclamar-se favorável ou contrário a um partido político ou religião. Espalhar mentiras, porém, é baixo. Se motivadas pela ignorância, coloca a cultura e o conhecimento da pessoa, por mais conhecida e ilustre que seja, em cheque; se motivadas por ideologia pessoal, revela intolerância religiosa, o que para mim é pior do que a própria ignorância.

Verissimo equivoca-se completamente ao afirmar que a religião de Mitt Romney permite a poligamia – inferindo que Romney, que só tem uma esposa, não seja um Mórmon praticante, visto que não segue as normas de sua igreja. Se seguirmos essa linha de pensamento, meu esposo, Bispo da igreja na região de Gravataí, é também membro inativo pois sou sua ÚNICA esposa. E não existirão outras, uma vez que declaração oficial, datada de 06 de outubro de 1890, proíbe casamento plural para membros de nossa religião. O descumprimento da lei conduz à desassociação da igreja. Como então afimar levianamente que Romney descumpre as normas de sua igreja por ter uma só esposa?! Estamos visivelmente diante de um paradoxo.

Causa-me espanto saber que um escritor renomado emite julgamento a respeito de um assunto sem buscar conhecimento em fontes oficiais. Estaríamos diante de um caso de intolerância religiosa? Mauro Loureiro defendeu em seu blog a seguinte visão dos fatos: “O que me incomoda é que um candidato a uma eleição política seja desqualificado por pertencer a uma denominação religiosa. Isso contraria os princípios básicos de uma democracia e das regras mínimas de tolerância religiosa. É algo tão inaceitável quanto o preconceito racial."Seria esse o fator motivador para tamanho deboche? Lastimável.

Fico aqui pensando no motivo que uma pessoa teria para atacar a crença de outra... Não consigo entender! Jamais fiz isso - o que não significa que eu aceite ou concorde com tudo que ouço e vejo por aí. Mas respeito é fundamental entre pessoas civilizadas e que se dizem cultas. Eu não me sentiria à vontade pra falar de uma prática religiosa, por exemplo, se não tivesse mergulhado profundamente nela e soubesse com detalhes de sua história, e só me arriscaria a proferir algo se tivesse certeza de sua veracidade. Eu, que sou um ninguém, tenho o cuidado extremo de evitar a leviandade em minhas palavras. 

Enquanto isso, segue a corrida presidencial lá nos Estados Unidos, uns torcendo por Mitt Romney, outros por Barack Obama. Eu, aqui, torço acima de tudo para que a intolerância religiosa seja vencida, assim como todo e qualquer preconceito, pois não basta ser instruído: é preciso ser sábio nesta vida.

Suzy Rhoden


domingo, 8 de janeiro de 2012

Aprender um Novo Idioma




Quem ainda não fez planos de aprender um novo idioma, um dia fará. Seja por necessidade de qualificação profissional, seja por vaidade – considerando  o desejo de uma viagem ao exterior, por exemplo – fato é que não basta falarmos exclusivamente nossa língua em tempos de globalização: precisamos estar dispostos a atravessar fronteiras.

Em geral, gostamos da ideia de acrescentar um novo idioma ao currículo. Mas quando começam as aulas... a disposição vira paixão indiscutível, ou vai pro brejo. Não se ouve alguém dizer que gosta mais ou menos de Inglês... ou ama, ou odeia! E assim com todos os idiomas...

No meu caso, amo. Para as festas de fim de ano, recepcionamos uma família de turistas norte-americanos em nossa cidade, com os quais travei conversação animada. A língua inglesa não é entrave para mim, muito pelo contrário: é justamente uma de minhas áreas de formação. Assim, a comunicação foi fluente. Comentando a cena, uma amiga  declarou: “Que chique, você parecia tão americana quanto eles!”. Expliquei pra ela que não é bem assim, obviamente desconheço muitos detalhes de sua língua materna, mas isso não impediu ou afetou nosso diálogo. Disse que ela poderia ter a mesma habilidade dentro de algum tempo, se desejasse. “Não, nem pensar! – contestou ela – Pra você é fácil, mas eu jamais conseguiria.”

Sempre acho graça nesse tipo de comentário. Olhamos para o talento do outro como se, por uma dádiva dos céus, ele tivesse nascido em posição privilegiada, super dotado, com capacidade acima da média para determinada atividade. Não percebemos que, com esse julgamento, eliminamos todo esforço da pessoa e a disciplina devotada, talvez por uma vida, para chegar àquele nível de excelência. Comodamente assumimos o papel de plateia, como se disséssemos: vai lá você, que nasceu sabendo, e eu fico aqui quietinho só te aplaudindo.

Não, amiga, eu não nasci sabendo. Precisei estudar – e muito! – para aprender e sentir-me  à vontade pra me expressar em Inglês. Minha história é a mesma de qualquer estudante de línguas. E como a maioria,  já odiei Inglês. Odiei tanto, que decidi decifrá-lo!

Comecei a faculdade  pensando que sabia alguma coisa. Direto de escola pública pra universidade federal, imaginava todas as colegas com experiências semelhantes as minhas, garota sonhadora do interior que eu era. Que nada! Metade vinha de escola particular, muito bem instruída; outra metade vinha diretamente do exterior, de intercâmbios realizados, motivo pelo qual haviam optado pelo curso de Inglês. Havia, claro, as esposas de americanos e as proprietárias de cursos de línguas que precisavam unicamente do diploma. E eu – que já tinha ouvido falar no tal do verbo To Be, não sabia onde, mas não devia ter sido na escola.

Nessas condições, aventurei-me a aprender Inglês. Cada aula era uma sessão de tortura, uma confirmação da superioridade de minhas colegas e de minha incapacidade para internalizar a nova estrutura linguística. Passei a detestar a língua, as professoras e tudo relacionado ao idioma: os resultados não poderiam ter sido melhores! Pelo menos no meu caso, o desafio é algo infalível. Quando o mundo teima em dizer que é impossível, me desdobro e provo o contrário. Faço de meu próprio obstáculo o degrau para o sucesso.

Sair da zona de conforto é o segredo. Crianças e adolescentes compreendem isso, lidam melhor com o desconhecido do que nós, adultos. Sei por experiência: abandonei o curso de Francês no primeiro semestre quando, após uma prova, a professora informou que maioria absoluta da turma não havia atingido a média. Sem conversar com ela a respeito, proclamei-me uma das fracassadas e não fui mais para as aulas. Meses depois, descobri no mural a publicação das notas: a minha havia sido a mais alta! Tarde demais, reprovei por frequência.

Felizmente, tive atitude diferenciada para o Inglês, aceitei os riscos. Quem insiste, apesar dos contratempos, entende num belo dia o significado da palavra fluência: descobre-se pensando e falando em outro idioma como se aquela fosse sua própria língua! Acontece com todos que pagam o preço da disciplina, sem exceção.

O problema das línguas estrangeiras é que não podemos confiar em nossa própria avaliação nos primeiros meses de estudo. A saída da zona de conforto confunde, pois partimos rumo ao desconhecido e a sensação imediata é a de termos errado o passo e caído no precipício; tentamos nos comunicar e não conseguimos; falamos uma língua e a professora outra, sendo que nenhuma delas é o bom e seguro Português. Admito, os primeiros meses são desesperadores. Para cruzá-los sem prejuízo na motivação, precisamos confiar no profissional que nos instrui: ele poderá avaliar com competência nosso progresso.

Tive uma aluna que cresceu estudando Inglês, conheceu diferentes metologias em diversas escolas de línguas que frequentou. Carregava, porém, um bloqueio que a impedia de interagir, embora sua pronúncia fosse excelente. Não lhe faltava nada, nenhum conhecimento linguístico, mas precisava confiar em si mesma e acreditar em sua professora que lhe dizia: você não percebe, mas está preparada! Quando Ana Carolina finalmente aceitou essa realidade, seu Inglês fluiu e ela avançou sem medos do básico para o nível intermediário.

O novo idioma não precisa ser uma barreira para a realização de sonhos: a atitude positiva diante dos desafios faz milagres! Mas a escolha ainda é nossa: podemos ser plateia assombrada com a performance brilhante de outros, ou podemos levantar do assento e assumir com determinação o espetáculo. O desafio está lançado!

Suzy Rhoden

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Traçar Metas é Fácil...




Mas onde ficam os planos de ação nessa história? Na maioria dos casos, não ficam...

Temos o estabelecimento de metas como um hábito que acompanha a renovação do calendário. É uma obrigação, mas não significa que estamos de fato comprometidos com aquilo a que estamos nos propondo para o ano que se inicia. É uma mentira que contamos para nós mesmos, e claro que fingimos que acreditamos. Mas nem sempre queremos de fato a mudança registrada e então, criativos que somos, inventamos mil e uma desculpas para justificar o não cumprimento daquela meta.

Sei bem disso, minha mãe não poupou esforços para me ajudar a vencer o terrível e vergonhoso hábito de roer as unhas. Minha ansiedade justificava tudo, atropelava qualquer argumento de minha mãe. Até que, finalmente, as novas e irresistíveis coleções de esmalte me capturaram pela vaidade: parei de roer as unhas da noite para o dia, convencida de que meus tocos de unhas ficariam ridículos naquelas cores extravagantes. Encontrei a motivação que  precisava para de fato mudar um hábito.

Vencer a obesidade, parar de fumar, modificar hábitos alimentados por uma vida requerem mais do que bons argumentos: é preciso vontade indiscutível de vida nova naquele aspecto. Quantas pessoas já não ouviram do médico o ultimato: o cigarro ou a vida?, e são ainda fumantes. Ou já não são mais, pois partiram deste mundo... fumando! Todos conhecemos bem os malefícios, não é a conscientização  que nos falta. Mas a disposição pessoal de sacrificar um prazer momentâneo por algo que se quer mais, algo maior e que geralmente vem a longo prazo. Imediatistas que somos, só aceitamos a troca se for pra hoje o resultado.

Sejamos claros: podemos mudar, renovar nossa vida, sim. Podemos recomeçar a qualquer momento, não somente  em janeiro. Mas precisamos ter a coragem de fazer uma troca que envolve, geralmente, o sacrifício de algo, confiando em resultados que vem com o tempo – e não neste mesmo instante!

Dietas malucas não funcionam, são ilusões do comércio ou seja lá de quem as invente, mas não garantem emagrecimento saudável em uma semana. É loucura acreditar que reduziremos medidas sem encararmos um programa regular de exercícios físicos  – entre  outras tantas facilitações que existem por aí, vendidas como frascos de ilusão para muitos desavisados.

Já não caio nesses golpes, penso inclusive que nunca caí. Adoro fazer metas, traçar planos, mas com boa dose de realismo e disposição para o sacrifício. Percebo um erro comum na maioria das pessoas que se diz disposta a atingir um objetivo: esquecem de elaborar o plano de ação! Traçam a meta e passam o resto do ano esperando pelo milagre. Em dezembro colhem a sensação humilhante de não terem evoluído um milímetro sequer na direção do alvo pretendido.

Precisamos, portanto, de um plano. Se meu foco é o emagrecimento, quais  os hábitos saudáveis que estipularei? Quanto mais específica eu for, mais chances terei de seguir a receita e atingir minha meta. O mesmo vale para o desenvolvimento de novas habilidades, não basta apenas desejar: é preciso pagar o preço em termos de disciplina e dedicação. Faz-se necessário agir rigorosamente de acordo com o plano elaborado.

Há quem diga que já passou da idade para enfrentar uma renovação, para adquirir novos talentos, e que agora basta viver da realização dos filhos e dos netos. Que desculpa esfarrapada para a preguiça! Que medo de reinventar-se! Trago comigo exemplos que me levam para outros rumos: minha mãe, tendo passado a vida toda no interior em prol do marido e dos filhos, aflorou seus talentos justamente agora, na idade madura. Nunca a vi tão feliz, tão segura de si! Continua sendo a mãe devotada de outros tempos, mas agora acrescentou a sua história a consciência do valor individual e transmite isso como legado a sua posteridade, o que me enche de orgulho e gratidão.

Guardo também a lembrança de uma senhora que conheci em Divinópolis, Minas Gerais. Aos 65 anos, decidiu que aprenderia a reger. Não conhecia sequer as notas musicais, mas atenta às lições e disposta a de fato aprender, realizava todos os exercícios extra classe. Seu progresso era visível aula após aula. Quando já dominava a arte de reger, contou-me que então começaria as aulas de canto. No começo, nem eu poderia ser mais desafinada do que ela – e meu caso é grave!  Mas ao final de alguns meses, ouvíamos uma soprano confiante elevar sua voz enquanto comandava um coro de mulheres. Emocionada, aproximei-me  pra parabenizá-la por tanta dedicação, dizendo que me alegrava em vê-la atingir com excelência seu objetivo. “Atingir meu objetivo? Não, querida. Ainda tenho que aprender a tocar um instrumento musical” – foi  sua resposta, pronunciada sem  presunção, mas plena de determinação. Quando deixei Divinópolis, tendo concluído minha missão, Dona Clélia fazia aulas de piano e violino.

A idade não foi obstáculo pra ela. Nem o filho especial, totalmente dependente de seu auxílio. E muito menos as outras crianças especiais, das quais ela cuidava com zelo. Nem as clientes, em seu salão de beleza, reclamaram de seu desleixo, pois ela continuou atuando com total dedicação. E fez tudo isso sem um marido para auxiliá-la em suas muitas tarefas, já que o seu fugiu intimidado diante dos infortúnios da vida, afundou-se na bebida. Ela carregou o fardo sozinha, sem jamais reclamar da sorte que lhe coube. E sem parar de se aperfeiçoar em todas as áreas que desejou.

Traçar metas é fácil... Mas atingi-las é para quem tem um plano de ação, e força de vontade para colocá-lo em prática - não apenas em janeiro, ou então desesperadamente em novembro, mas de forma consistente, o ano inteiro.


Maestro João Carlos Martins, exemplo de superação


Suzy Rhoden
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