domingo, 28 de outubro de 2012

Timidez: Tem Cura!



Comecei a perceber os sintomas assim que ele começou a ler. Não fazia como as outras crianças, enfiava o  rosto no livro  como se quisesse esconder-se dentro dele, então lia. Lia muito bem, por sinal, pontuando claramente cada palavra. Mas lia daquele jeito estranho, que tanto me preocupava!

Sabendo que todo olhar de mãe carrega seus exageros, aguardei confirmação externa à família: não demorou até as professoras manifestarem sua preocupação, mencionando visita ao oftalmologista, sugestão que acatei de imediato. Meu marido, porém, em sua habitual tranqüilidade, fez todo tipo de “teste caseiro” e afirmou que o problema de nosso primogênito era um só: vergonha de ler em público. Sarcástica, informei que quando ele me apresentasse sua especialização em oftalmologia eu daria crédito as suas palavras. E fomos ao médico.

Dr. Bernardo nos recebeu com sorriso largo e, com a devida atenção, fez avaliação completa nos olhos de meu filho.  Minutos depois eu ouvia de seus lábios um “tchau, passe bem, nos vemos no ano que vem”. Como assim, Dr?!  Para minha grata surpresa, fui informada de que meu menino é capaz de ler até no escuro, não apresentando qualquer problema de visão. Mas e o nariz enfiado no livro, Dr?! Possivelmente, VERGONHA DE LER EM PÚBLICO! Sarcástico, meu marido informou que quando eu lhe apresentar minha especialização em “maternidade”, ele dará mais crédito aos meus exageros... E voltamos para casa.

Voltei feliz da vida, obviamente, pois não imaginava que argumento teria de usar para convencer meu filho a aceitar os óculos: ele resistia toda vez que tocávamos no assunto! Fiquei pensando, porém, nos transtornos que a timidez causa na vida de uma criança, se não for imediatamente identificada e gradativamente combatida.

Olhei para trás e vi-me tímida também. Não era do tipo anti-social, muito pelo contrário:  minha timidez atraía bons e queridos amigos. Mas não suportava a ideia de ser o alvo das atenções, por isso praticamente não se ouvia minha voz em sala de aula. Seria uma aluna que passaria despercebida, não fosse o  excelente desempenho nas provas e trabalhos requisitados. Discretamente deixava minha marca, silenciosamente mandava meu recado.

Não sei em que momento de minha história as coisas mudaram – se é que mudaram, pois ainda prefiro a palavra escrita! Mas não temo os microfones, não evito falar em público, nem sofro com os holofotes sobre mim. Aprendi que anonimato e “cinco minutos de fama” se intercalam com freqüência, e o bom mesmo é viver plenamente cada situação.

Porém compreendo o sofrimento dos tímidos, tenho justificada empatia. Não é algo que se vence de um dia para o outro, é desafio para uma vida inteira! Vivi experiência marcante nos últimos dias...

 Meus filhos foram convidados a falar para um grande público, durante apresentação  da Primária de nossa igreja. Ambos decoraram suas escrituras, porém o mais velho era resoluto em dizer que não subiria ao púlpito pra falar. Não impusemos nossa vontade sobre ele, mas nos empenhamos em prepará-lo para aquele momento, estudando com ele e orando em família para que se sentisse seguro e confiante para cumprir com sua designação. Por fim,  a resistência do mais velho sucumbiu diante do incentivo constante do menor e nada tímido de meus meninos, de modo que ambos brilharam em seus personagens. Fiquei emocionada! Entendi que motivação sinceramente oferecida faz milagres.

Concluída a apresentação, adiantei-me para abraçar meu primogênito, ele fora incrível! Mas ainda mais incrível foi ouvir sua declaração: “Mãe, eu adorei falar! E não senti medo, tive vontade somente de sorrir enquanto olhava para as pessoas!” Ele experimentou a alegria dos corajosos: aqueles que, apesar da insegurança, aceitam o desafio e vencem a si mesmos!

Depois abracei meu caçula, tão pequeno e tão à vontade com o microfone! Ele também estava radiante: havia experimentado a alegria de orar por seu irmão e de fortalecê-lo diariamente para que vencesse sua dificuldade, compartilhava da sensação de vitória.  

Sabemos que esta foi apenas uma etapa, de muitas que nosso querido tímido enfrentará na vida. Mas duas certezas ele já tem: enfrentar o medo é o único jeito de vencê-lo; e jamais estará só nesse desafio, pois sua família andará ao seu lado, oferecendo o suporte muitas vezes necessário.
Suzy Rhoden

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Quem Matou Max?!



Enquanto o Brasil inteiro se pergunta quem matou Max, eu me pergunto: quem é Max?!

Ok, preciso confessar: nem o direito de não saber quem é Max eu tenho mais! Sei quem ele é, o que fez, o que nunca deveria ter feito..., e tudo isso sem jamais ter assistido um capítulo inteiro da novela! Basta entrar nas redes sociais no “horário nobre” para saber com detalhes as baixarias protagonizadas por Carminha, Tufão e companhia, pois a narração da novela é feita online por seus fiéis telespectadores.

Tenho vontade de comentar: olha, se eu quisesse realmente saber o que está acontecendo na novela, não estaria aqui e sim boquiaberta a frente da televisão. Mas respeito a liberdade de expressão, a necessidade que alguns parecem sentir de compartilhar seu vício. Entendo que, se a incomodada sou eu, cabe a mim achar melhor ocupação do que a internet para essas preciosas horas de folga, tais quais ler um bom livro ou desfrutar da companhia dos familiares – se esses não estiverem vendo a novela, claro!

Pois atualmente percebo que novela não é mais exclusividade feminina: meus amigos homens são os mais atualizados, sabem exatamente tudo que está acontecendo e já não se envergonham de dizer: “sou noveleiro!”.  Se pai e mãe estão a frente da TV, onde estarão as crianças? Atentos à escola de maldade que cada capítulo oferece diariamente? Pois se alguém ainda não sabe como manipular, trair, agir com dissimulação, desviar altas quantias de uma empresa..., por favor, assista às novelas globais e aprenderá em um só dia!

Outra coisa que muito me intriga é ver cenas recheadas de traição, triângulos amorosos, momentos picantes e totalmente contrários ao que dita “a moral e os bons costumes” contrastando com finais românticos, nos quais as mocinhas adentram a igreja de véu e grinalda e terminam a trama grávidas de gêmeos! Como assim?! Valores guardados apenas para o último dia? Por meses consecutivos a instituição casamento é apresentada como falida para, no grand finale, ressurgir gloriosa das cinzas?! Não dá para entender...

Sou da opinião de que tudo que vicia é desprezível. Não suporto a idéia de estar atrelada a algo que não me eleva e nem me edifica. Novelas não me fazem bem, apenas me irritam: revelam o que há de pior no ser humano e me fazem perder um tempo enorme vendo os defeitos dos outros quando deveria estar tratando de eliminar os meus! Cada capítulo é uma página de vida assistida ao invés de vida vivida!

Enquanto escrevo, o penúltimo capítulo vai ao ar. Que perda lamentável! Como poderei viver sem saber quem matou Max?! Não me surpreende o brasileiro dar tal importância ao programa, segue simplesmente o exemplo de sua Presidenta...

Mas não ficarei ignorante no assunto por muito tempo: as redes sociais gritarão o nome do assassino! Também divulgarão a lista de casamentos e quantos bebês fofinhos nasceram de pais adúlteros arrependidos... 

E, se por acaso eu perder algo de suma importância na trama, não tem problema: a próxima novela virá com  mesmo enredo, mesmo clímax, mesmo desfecho. Mudam apenas os nomes dos personagens. Ou nem isso, se for Manoel Carlos o autor... Não é meu caso, mas há quem aguente “filme” repetido. Para esses, “Salve Jorge”!

Suzy Rhoden

sábado, 13 de outubro de 2012

Onde estão os professores?!



Às vésperas do dia dos professores, a mídia repercute a pergunta: onde estão eles para que os parabenizemos? Cada vez mais raros nas universidades são os optantes pelo Magistério,  menos de 2% segundo as estatísticas. Não por falta de vocação, certamente. Mas justamente porque vocação é a única coisa que não lhes falta para o trabalho, pois o restante...

Ter um professor na família, em tempos antigos, era motivo de orgulho. Minha mãe, ainda criança, relembra a alegria de meus avôs quando a filha mais velha decidiu ser professora: incentivaram-na, pagaram com alegria seus estudos, seus cursos. O professor era tratado com deferência, chamado de mestre, de modo que ter um professor na família era a certeza de alguém sábio e cheio de conhecimento sempre à disposição. A autoridade do professor era respeitada, não apenas na sala de aula, mas o título que carregava lhe dava direito inquestionável a sapiência. 

Fico me perguntando em que  momento da história as coisas desandaram deste jeito! Quem é o professor hoje, senão um sonhador violado em seus ideais? Pois não existe ideal que resista à realidade de nossa educação. Um profissional rebaixado e desvalorizado, tanto por alunos quanto por pais, e principalmente pelo governo que, diante dos milagres que alguns ainda conseguem fazer, parece dizer friamente através da remuneração oferecida: não fez mais do que a obrigação.

E por falar em obrigação, há os pais que, hoje em dia, associem escola com reformatório: não podem com a vida dos filhos em casa, então largam no portão da escola com a recomendação de que no final da tarde virão buscar anjinhos, e ai da professora se não domar as feras! Mas ai dela também se tentar domar, se por acaso solicitar que o aluno limpe algo que sujou... Processo por expor a criança à humilhação!

Quem aguenta ser professor nessas amargas condições? Eu não aguentei, abandonei as salas de aula – que  para mim eram palcos, de tanto que eu amava pisar nelas! Mas não suportei a pressão, o sufoco, a humilhação. Não aguentei a dualidade da mente explodindo de ideias para o trabalho: ideias suicidas, porém, pois saltavam vivazes num abismo de impossibilidades, nadavam e morriam na praia!

Como pode este mundo pensar que é capaz de viver sem o professor?! É algo equivalente ao filho recém-nascido e completamente dependente rejeitar os cuidados da mãe... Assim, esta sociedade que ainda nem engatinha culturalmente desvaloriza a mão amiga, crendo-a inútil e desnecessária. Cresceremos órfãos de ideias, subnutridos de conhecimento, desprovidos das asas da sabedoria, sem as quais não se pode voar!

Alguns mestres, contudo, não fogem do palco em ruínas onde são obrigados a atuar! Professores com muito orgulho, dignos de dez vezes o valor estampado em seu contracheque; remando contra todas as correntezas e ainda assim fazendo um trabalho que arranca aplausos! São raros, são poucos, são sobreviventes, mas não arredam pé, tamanha a força de sua convicção! Seguem acreditando na causa que os levou ao Magistério, ainda que ninguém mais acredite... Pois sabem que, morrendo a educação, passa a viver apenas vegetalmente toda uma população – e isso eles, guerreiros comprovadamente, jamais aceitarão!

Parabéns, mestres! Obrigada por não deixarem morrer em mim a esperança que por vezes agoniza... Em dias melhores, em uma educação valorizada; em cenários construídos sobre palcos apropriados,  onde atores possam brilhar em sintonia com a platéia que os aplaude, havendo respeito, havendo riso! Pois hoje, lastimavelmente, a cena que se vê provoca apenas lágrimas.

Suzy Rhoden

domingo, 7 de outubro de 2012

Brasileiros em Terras Estrangeiras


Há alguns dias, eu conversava com uma amiga que se prepara pra deixar o Brasil, rumo a terras estrangeiras. Não é uma aventureira, vai aos Estados Unidos com propósito definido: estudar, adquirir experiência, enriquecer o currículo. Mas, considerando sua condição de solteira, não pude deixar de perguntar: e se você se apaixonar por um americano? Trocaria definitivamente nossa terra e estabeleceria por lá um novo lar?

A pergunta é incômoda, temos que admitir. Estabelecer-se  provisoriamente no exterior é uma coisa; fazer da nova terra um lar, onde ter e criar filhos, é outra história. Para algumas, esse é um “sonho de consumo”. Mas para muitas, dedicadas à família como é o caso desta minha amiga, seria um enorme sacrifício de um bem precioso em favor de outro.

Além do fator família, existe a questão cultural. Somos povos diferentes, com hábitos diferentes, com anseios diferentes. Carregamos uma tradição, alguns com mais orgulho, outros com mais empáfia, mas fato é que temos uma identidade e isso é saudável e desejável. Como conciliar, porém, no caso de um casamento entre pessoas de países distintos?

Confesso que eu tinha minhas inquietações nesse sentido, até acompanhar a história bem-sucedida de Gabriela. Casada com um norte-americano, minha amiga gaúcha reside há alguns anos no estado do Arizona. A primeira missão foi ensinar um pouco de Português ao esposo, inicialmente analfabeto em tudo que se refere ao nosso idioma. Posteriormente, Gabi tornou-se mãe de uma linda menininha, o que aumentou seu fardo: como oportunizar a filha o contato com a cultura brasileira, preservando as raízes e tradições maternas?

Do meu ponto de vista, Gabriela tem feito isso com excelência. Apesar da saudade de nossa terra e de nossos costumes, conforme me confidencia nos emails, Gabi encontrou sua estratégia para vencer a distância: está diretamente envolvida com a comunidade de brasileiros em Tucson, levando nossa cultura aos Estados Unidos da forma mais plena possível!

Juntamente com outras brasileiras, Gabriela organiza eventos comemorativos de acordo com nossas datas festivas aqui no Brasil. Nesta semana, por exemplo, aconteceu a Festa do Dia das Crianças, atividade da qual participaram ativamente adultos e pequenos, americanos e brasileiros, brincando de ovo choco, passa anel, amarelinha, pega-pega, bambolê, telefone sem fio, morto e vivo, e mais uma série de brincadeiras típicas de nossa terra. Além disso, conforme  programa da atividade, foi reservado momento de leitura para a apresentação de folclore brasileiro.

Com todas essas possibilidades, tranquilizo minha amiga, às vésperas da partida: pode se apaixonar à vontade, querida! Para quem tem disposição e criatividade, não existem fronteiras linguísticas ou culturais. Passou o tempo em que se falava em saudade da terra natal: hoje em dia, com os recursos tecnológicos disponíveis, é muito fácil levar nosso legado na mala.

Parabéns para Gabriela e suas amigas que, ao invés de lamentarem as ausências, transformam a distância em presença!



 Suzy Rhoden
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