sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Relacionamentos Humanos - (Para Gabriela)



De tanto ler e ouvir que hoje em dia não se pode mais confiar em ninguém, fiquei pensando no assunto. Estaremos diante de um caos nos relacionamentos humanos, como aquele que se viu há algum tempo no sistema aéreo brasileiro? Um tsunami de  decepções, arrastando gente indefesa que, enquanto veraneava na praia da amizade, era traída da maneira mais vil e apunhalada pelas costas?

Frases nesse teor estampam as redes sociais, a frustração é a palavra da vez. O ambiente virtual funciona como o  clube dos magoados: espaço adequado para desabafos de uns, indiretas de outros. Sinta-se à vontade para refutar a afirmativa quem nunca, nunquinha mesmo, fez uso da palavra escrita para um dos fins aqui mencionados.

Mas sabe o que penso disso tudo? Que é perda de tempo. Perdemos tempo tentando transformar o outro num arremedo de nós mesmos. Querendo que ele corresponda as nossas expectativas, ao invés de permitirmos que  seja autêntico. Cobrando e sufocando, focados em nossas necessidades, sem pensar que o outro poderá estar ainda mais ocupado do que nós, debatendo-se com problemas que nem nos passam pela cabeça!

Para mim, o problema não está nos relacionamentos humanos – está na falta deles! Não queremos nos relacionar, queremos apenas ser beneficiados O TEMPO TODO! E ainda temos a covardia de chamar isso de amizade, de induzir que o outro tem obrigações conosco porque é nosso amigo...

Não raro, agimos como se a amizade fosse uma via de sentido único  – convergindo para nós, é claro. Lembro-me do relato de uma amiga, que havia se tornado mãe de primeira viagem há poucos dias, e ainda assim, embora muito assoberbada, lembrou-se de ligar para uma conhecida. A fulana, mal atendeu o telefone, crivou a primeira de cobranças: não poderia ter sumido daquele jeito, nunca mais ligou, precisa se organizar e encontrar tempo para as amigas, ter filho não é doença terminal, virou reclusa, se isolou de todo mundo, etc, etc. Em nenhum momento se deu conta de que a sumida era justamente quem tinha ligado!

Cobrar dos outros é desgastante e inútil. Acaso podemos nós oferecer a perfeição? Para que, então, cobrá-la de meros mortais com os quais nos relacionamos?! Aí todos se afastam, porque não nos aguentam mais, e nós arrogantemente botamos a culpa na fragilidade dos relacionamentos humanos em tempos contemporâneos.

Felizmente, em minha vida nunca faltaram os bons exemplos. De gente que consegue se despir do instinto cobrador e simplesmente ser amigo. Sem pensar no que vai lucrar com isso. Sem colocar-se no relacionamento como o eixo central da terra. Sem desrespeitar a opinião do outro, pois entende que o livre arbítrio é uma dádiva divina. Sem tentar ajustar a personalidade alheia a sua, pois aceita cada filho do Pai Celestial como único e incomparável.

Quero citar dois exemplos apenas, dentre os tantos  que me ocorrem neste momento. O primeiro deles faz aniversário hoje.  E atende por Gabriela, minha AMIGA, não apenas com o A, mas com todas as letras maiúsculas. Mora bem longe de mim, fisicamente, mas às vezes me confundo e penso que ela está no meio da minha sala. Nunca senti sua ausência. Mesmo quando ficamos meses, anos sem comunicação. Ao nos reencontrarmos, falamos do ano passado como se fosse ontem, e nenhuma culpou a outra pelo sumiço.  Não estávamos sumidas, estávamos vivendo, ou seja, escrevendo histórias para mais tarde contá-las uma a outra. A desconfiança jamais ocupou nossos pensamentos, pois a amizade (o amor, a caridade) “não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal” (I Cor. 13: 5). Se não for assim, é algo, mas não é amizade.

O outro exemplo me foi trazido por Gabriela, na ocasião de sua vinda recente ao Brasil. Felizes com sua visita, todos nos empenhamos em comprar-lhe presentes, enquanto disputávamos seu tempo conosco. Uma pessoa, porém, não entrou na disputa, mas suplantou a todas nós com a discrição de sua oferta: ao invés de pedir o tempo de Gabriela, nos poucos minutos que passaram juntas deu-lhe de presente um diário. Simples assim.

Ao lê-lo, em casa, Gabriela descobriu um registro minucioso de sua amizade desde o momento em que se conheceram, as aventuras que viveram juntas, as situações inusitadas, engraçadas, tristes... momentos que se perderiam na mente assoberbada de minha amiga, se não fosse alguém interessado em dedicar seu tempo para preservar uma rica história. Alguém que se doou sem cobrar nada. Sem jogar na cara: por que não me ligou esses anos todos?! Pois entende que amizade é algo que se compartilha espontaneamente, não é uma obrigação.

De tudo isso, guardo uma conclusão: é fácil, simples e econômico construir um bom relacionamento. Mas queremos o lucro. Cobramos. Por isso afastamos as pessoas e depois lamentamos: não se pode confiar em ninguém hoje em dia!

Porém pense cada um o que quiser, e viva como lhe aprouver. De minha parte, só tenho mais uma coisa a dizer: relacionamentos humanos são uma bênção! Gabriela, você tem tudo a ver com isso. Feliz aniversário!



Suzy Rhoden

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Leitura e Contação de Histórias: Atividades em Família


A leitura é uma de minhas atividades favoritas, isso não é nenhuma novidade. Rendi-me cedo aos livros, desde que me conheço por gente. Curiosamente, porém, e contrariando as estatísticas, o estímulo não veio de casa, onde não havia sequer uma biblioteca montada.

Calma, não se apressem em julgar meus pais, reformulo minha frase: embora não existissem livros infantis a minha inteira disposição, o estímulo veio, sim, de casa, da família maravilhosa que tive.

Meus pais eram humildes agricultores, trabalhavam pelo nosso sustento, ofertando-nos o melhor e o mais saudável em termos de alimentação. Mas pouco tinham lido na vida, sequer tinham completado os estudos primários, por que afinal lhes passaria pela cabeça, como prioridade absoluta, ter uma biblioteca em casa?! Entendo muito bem a visão dos meus pais e lembro perfeitamente de seus esforços para que meus irmãos e eu estudássemos, sempre bem nutridos e bem vestidos. Ou seja, não abriram a porta para mim, mas  deram-me a chave e disseram: você pode fazê-lo.

Tive uma infância invejável. Cresci na zona rural de um lugarzinho esquecido no mundo, bem longe do que chamam de civilização. Um lugarzinho abençoado, onde tive espaço para ser criança, subindo em árvores, deslizando em papelão pelos barrancos, correndo livremente pelos campos que se estendiam convidativos até a linha do horizonte, tomando banho de sanga... Enfim, muito brinquei nesta vida. Muito mesmo.

Além disso, se não tinha os livros impressos, tinha-os editados diretamente das mentes férteis de meu pai e meu avô: como contavam histórias aqueles homens! Lembro das noites à luz de velas, quando faltava energia elétrica no interior, e os patriarcas  sentavam-se conosco em roda, narrando histórias fantasiosas de seu tempo de guri. Eu acreditava piamente em tudo: eram heróis os meus ascendentes, exímios campeões de MMA no colégio, quando o esporte ainda nem estava na moda. Como eu os admirava! Hoje sei que eram apenas brigões e contadores de vantagens...

E as histórias de assombração? Essas eram as preferidas nas noites de lua cheia. Não sei se tinham a intenção de entreter ou apenas de manter a filharada quieta, até o retorno da energia elétrica... Fato é que não se ouvia um pio, era só criança grudada nos adultos, com os olhos esbugalhados. Fizeram terrorismo comigo? E deve ter dado muito certo, pois hoje em dia pouca coisa me assusta.

Passados tantos anos daquela  época,  residindo no coração de uma selva de pedras, entendo que aquela foi a primeira leitura que me foi oferecida, e a mais importante de todas: a leitura de um mundo que me dava asas para voar. Descobri, primeiro, o mundo. E aos seis anos, ao conhecer as letras, ganhei as asas. Saí voando por aí, e voando estou até hoje. Minha família tem tudo a ver com isso, embora jamais tenha me dado livros de presente.

Cresci, estudei, casei, tive filhos... De repente, me vejo criança outra vez, empreendendo viagens inenarráveis! Mas desta vez vou como acompanhante, ocupo o banco do carona: os aventureiros pelo campo das letras são meus filhinhos!

Não sei se o fator é genético, mas eles amam viajar – literariamente falando. Todos eles, os três.  Tanto quanto eu, ou ainda mais... Surpreendem-me a cada dia com suas descobertas, é como se estivessem o tempo todo com a mochila nas costas, prontos para desbravar novos territórios. E eu, super parceira, topo todas!

Diferentemente de mim, crescem cercados de livros. É um excelente presente de aniversário, eles adoram! Não me preocupo em comprar os mais caros, o foco que tento passar a eles é outro: o que interessa são as histórias, venham elas em qualidade pop-up ou impressas em papel reciclado.

Precisamos ler mais para nossas crianças e também ler com nossas crianças; é fundamental contar-lhes boas histórias e permitir que nos contem sua interpretação dos fatos narrados. A leitura e a contação de histórias são atividades para serem feitas em família!

Encerro este texto, compartilhando uma experiência desta semana: refugiei-me em meu quarto para ler um livro que não me larga – aquisição recente, na última edição da Feira do Livro de Porto Alegre. Normalmente leio na presença dos pequenos, minha concentração me permite espiar crianças com um olho e destrinchar capítulos com outro...

Desta vez, porém, excepcionalmente, optei pela reclusão. Sem êxito algum, pois fui seguida. Encerrei a noite de leituras com três companheiros, cada qual com seu livrinho, conforme sua preferência literária, todos empilhados sobre  minha cama.

No fim das contas, fiquei confusa: não sei  se as lágrimas que vieram foram de emoção, motivadas pela excelente obra que eu tinha em mãos, ou se de orgulho, pelos pequenos leitores que  tinha ao meu lado. Eu, particularmente, adoro não ter privacidade alguma para minhas leituras.

Suzy Rhoden

sábado, 2 de novembro de 2013

Maternidade: Quantos Filhos Devo Ter?


Dia desses, mostrava eu a foto de meus três lindos filhos para um amigo. Com ar de espanto, o amigo questionou: os três são teus?! E, com a sensibilidade que lhe é peculiar, acrescentou: “Não entendo como alguém pode ter três filhos nesta época, inteligente mesmo é quem tem um só! Filho único é garantia de paz para os pais, que não precisarão conviver com brigas de irmãos em casa, e garantia de sucesso para a criança, que poderá ter tudo na vida, pois os investimentos dos pais serão sempre somente para ela! Um filho único é mais feliz, com certeza.”

Não contestei a opinião do amigo. Silenciei, dei por encerrado  o assunto. Talvez ele tenha pensado que, com sua fala, esgotou meus argumentos. Afirmo aqui, porém, que a realidade passou muito longe disso: sou convicta em relação ao assunto  e não há opinião pessoal que possa mudar o que a experiência real, com três crianças em casa, tem me acrescentado. Silenciei por respeito a esse amigo, um tanto mais velho do que eu, que nesta vida não foi abençoado com posteridade. Não queria  ferir seus sentimentos.

O referido amigo não é o único, muitos são os que tomam a liberdade de palpitar o número de filhos que devo ter – ou melhor, que devo não ter. Realmente não me incomodo, é mania de brasileiro achar que o que é bom para si será invariavelmente bom para o outro também. Lido bem com isso, ouço e replico ou ouço e descarto. Mas, confesso, ainda me impressiono com a motivação dos palpites: $$$$.

Bem sei que “é caro manter três filhos”. Acontece que os meus não vieram a este mundo com um preço: podem custar quanto quiserem, afinal a alegria que me concedem vale muito mais do que qualquer gasto que eu possa ter com eles! “Não terão a melhor escola”. Depende do ponto de vista. Para mim, a melhor escola ainda é o lar e a educação que se dá a eles em casa. O restante, é um mero complemento.

Nem mesmo a mais prestigiada instituição terá o poder de conceder felicidade e sucesso a minha prole se, antes de tudo, eles não souberem ser gratos pelo  que possuem. Serão bem-sucedidos profissionalmente, talvez, mas estressados e incapazes de administrar suas próprias emoções em momentos de adversidade. E, num belo dia, surtarão e jogarão pelo ralo anos de estudo na mais renomada universidade do país!

“Agora eles são crianças, mas crescerão e darão trabalho!”, dizem as bolas de cristal por aí... Se fosse um só não me daria trabalho, é isso? E se eu tiver trabalho, que problema há nisso? Não botei filhos no mundo para me jogar na rede e esperar que se criem à revelia: escolhi tê-los porque me apraz o exercício divino da maternidade, não importa o quanto de trabalho isso signifique. Eles são o melhor e o mais doce investimento da minha vida, e nada neste mundo vai mudar esse sentimento inabalável dentro de mim.

“Encerrou a fábrica, né?” Talvez não, ainda estamos decidindo. “O quê?!” O espanto geral da nação é tão grande que antevejo os moços de branco numa correria louca, com suas camisas de força, para cercear minha liberdade de ter uma numerosa posteridade! Insana, louca, inconsequente.

Ok, não iremos do oito ao oitenta, devo esclarecer: é preciso muita, mas muita sabedoria e cautela na decisão de se ter um filho. Não posso me conceder o direito de colocar filhos neste mundo sem as mínimas condições de criá-los, nutri-los, amá-los e educá-los. Há um conjunto de fatores que devem ser observados, não fazê-lo constitui negligência e inconsequência dos pais – é crime! Mas SE tenho essas condições, embora não seja milionária, tenho todo o direito de decidir quantos filhos terei.

Por fim, respondo agora ao amigo que me recomendou um filho único: quais, do meu trio, você sugere eliminar da família? Pois preciso imaginar a minha vida sem dois deles, sem as experiências insubstituíveis que vivi individualmente com eles... Pode existir sugestão mais estúpida do que essa a uma mãe FELIZ de três crianças adoráveis?! Francamente, amigo, foi mancada, foi bola fora...

Enquanto alguns reduzem a maternidade a uma cifra ($), eu a considero sagrada, um privilégio divino, a maior de todas as bênçãos almejadas. Realmente não tem preço. Sou triplamente abençoada!

“Quando a verdadeira história da humanidade for plenamente revelada, será que ela apresentará os ecos de tiros de armas de fogo ou o som formador de caráter das cantigas de ninar? Os grandes armistícios realizados pelos militares ou a pacificação efetuada pelas mulheres no lar e nas comunidades? Será que o que aconteceu nos berços e nas cozinhas há de se provar mais determinante do que o que aconteceu nos congressos?” (Neal A. Maxwell)


Suzy Rhoden
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